terça-feira, 26 de julho de 2022

CRÔNICAS DA PANDEMIA - Coletânea organizada por Anita Zippin e Alberto Vellozo Machado - Ano 2022.

 

 CRÔNICAS DA PANDEMIA

 

Coletânea organizada por Anita Zippin e Alberto Vellozo Machado

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Livro: CRÔNICAS DA PANDEMIA

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Capa do livro Crônicas da Pandemia.


Livro: CRÔNICAS DA PANDEMIA

Editora: Editora Bonijuris Ltda.

Organizadores: Anita Zippin e Alberto Vellozo Machado

Edição: Luiz Fernando de Queiroz e Olga Maria Krieger

Produção gráfica: Jéssica Regina Petersen

Capa: João Carlos Bonat

Projeto gráfico e diagramação: Júlio César Baptista

Ano da edição: 2022

Apresentação: Anita Zippin, Joatan M. de Carvalho.

Prefácio: Alberto Vellozo Machado

Autores de crônicas em prosa (por ordem de publicação): 

Maria do Rocio Vaz

Francisco Souto Neto

Elieder da Silva

Ludmila Kloczak

Elisa Monticelli

Emanuel Mascarenhas Padilha

Arriete Rangel de Abreu

Anita Zippin

Paulo Rogério Mudrovitsch de Bittencourt

Vera Rauta

Valéria Borges da Silveira

Engelbert Schlögel

Ney Fernando Perracini de Azevedo

Vânia Maria Souza Ennes

Júlio Ernesto Bahr

Maria do Rosário Knechtel

Cássia Cassitas

Kátia Santana

Vítor Beal

Joana Rolim

Edilson Elias

Alberto Vellozo Machado

Maria Júlia Carreira Pacheco

Hamilton Bonat

Lucrécia Welter

Simone Kronland

Ross Mary Capriotti Strano Vieira

Autores em poesia (por ordem de publicação):

Ângela Maria dos Santos

Odilon Reinhardt

Arioswaldo Trancoso Cruz

Lília Souza

Jadson Porto

Dione Mara Souto da Rosa

Alberto Vellozo Machado

Marlene Marques

Vera Rauta

Ângela Maria dos Santos

Cíntia Maria Honório

Mário Frota

Valéria Borges da Silveira

Thiago de Azevedo Pinheiro Hoshino

Helena Slongo

Helga Viezzer

Mamed Zauíth

Andréa Motta

Edson Ribas Malachini

Sérgio Ferraz

Madalena Ferrante Pizzato

Rô Caron

 

O livro CRÔNICAS DA PANDEMIA

 

Anita Zippin, que preside a Academia de Letras José de Alencar – ALJA em Curitiba, e Alberto Vellozo Machado, membro do mesmo sodalício, idealizaram a publicação de uma coletânea lítero-poética versando sobre a pandemia da Covid-19, que reunisse autores também de outras instituições ligadas às letras, tais como o Centro de Letras do Paraná, a Academia Feminina de Letras do Paraná, a Academia Paranaense da Poesia, o  Observatório da Cultura Paranaense e a União Brasileira de Trovadores Seção Curitiba.

Luiz Fernando de Queiroz, da Editora Bonijuris Ltda., que há anos tem dado grande apoio à ALJA, prontificou-se a editar a obra. Assim, os convites foram feitos a inúmeros intelectuais, para que participassem da concepção do livro. A mencionada advogada Anita Zippin sugeriu aos autores que não se referissem especificamente ao horror da doença que envolveu todo o planeta – e que ainda nos fustiga –, mas que em textos curtos procurassem aspectos de menos austereza.

Estávamos no terceiro ou quarto mês da pandemia, em 2020, quando escrevi minha crônica. Denominei-a “A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos”. Impresso e lançado o livro no corrente mês de julho de 2022, vejo meu trabalho estampado em segundo lugar, à página18.

A apresentação da obra vem assinada por Anita Zippin e Joatan M. de Carvalho, respectivamente presidenta e 1º vice-presidente da ALJA.

A capa do livro é da autoria de João Carlos Bonat, meu confrade da Academia. Muito bem inspirada e não menos do que genial, a capa de Bonat mostra  um homem moderno que usa a antiga máscara denominada doctore, que os médicos venezianos adotaram na Idade Média quando a peste chegou ao Vêneto, e que consiste na cara de um pássaro com longo bico. Dentro daquele enorme bico os médicos carregavam flores, cujo perfume não apenas tentava disfarçar um pouco o cheiro dos corpos em putrefação, como também imaginavam eles que o perfume afugentasse a peste. Pobres doutores daqueles tempos medievais, que não sabiam que a Peste Negra era transmitida por pulgas.


Gravura antiga que mostra um "Doutor da Peste" andando por Veneza na Idade Média, com a máscara que, carregando flores dentro do bico, imaginava estar protegido do contágio.

Pequena máscara "doctore" que comprei em Veneza.

O livro “Crônicas da Pandemia” foi lançado no dia 5 do corrente mês de julho de 2022, no salão nobre do 2º andar do Tribunal de Justiça do Paraná. Eu não compareci às solenidades do lançamento porque continuo em isolamento, sem entrar em ambientes fechados e com muitas pessoas presentes.  

 

Anita Zippin, presidenta da Academia de Letras José de Alencar - ALJA. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

Anita Zippin entre Joatan Marcos de Carvalho, 1º vice-presidente da ALJA, e Alberto Vellozo Machado, prefaciador de Crônicas da Pandemia e organizador da obra. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Joatan Marcos de Carvalho, Anita Zippin (exibindo Crônicas da Pandemia) e Alberto Vellozo Machado. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
A plateia durante a solenidade. A acadêmica Dione Mara Souto da Rosa, de blusa verde, é uma das poucas pessoas presentes a usar máscara de proteção contra a covid.  Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Luiz Fernando de Queiroz, proprietário da Editora Bonijuris, que graciosamente editou Crônicas da Pandemia. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
O acadêmico João Carlos Cascaes, diretor da ALJA, que na mesma ocasião lançou seu livro Ética & Envelhecimento. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 

Ética e Envelhecimento, de João Carlos Cascaes, em lançamento simultâneo com Crônicas da Pandemia. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
O acadêmico João Carlos Bonat, autor das capas de Crônicas da Pandemia e Ética & Envelhecimento, ao lado de Anita Zippin, presidenta da ALJA. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu. 

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“A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos”


 
Capa de Crônicas da Pandemia.

Primeiras páginas do livro.

Páginas 18 e 19 da crônica de Francisco Souto Neto.

Páginas 20 e 21 da crônica de Francisco Souto Neto, que vai inteiramente transcrita abaixo, para facilitar a leitura.


Francisco Souto Neto, autor de A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos, durante a pandemia.

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A VIDA ESCANCARADA DE MEUS SIMPÁTICOS VIZINHOS

por Francisco Souto Neto

  

QUEM SE ENCONTRA, COMO EU, em quarentena por causa da brutal e devastadora pandemia que assola o planeta,  quando se sente enfadado de tanto ler, de espanar o pó da casa, de assistir a muitos programas e noticiários da televisão, de ouvir música, de ficar no teclado do computador, de se atrever nas teclas do piano e de assistir a centenas de filmes, o que resta é olhar o mundo exterior pela janela. Observar, muito abaixo, os carros, e na rua gente mascarada ou não, as atividades de pessoas dentro dos seus escritórios e apartamentos nos prédios ao redor, o movimento das nuvens, o voo dos pássaros e as alvoradas e crepúsculos.

Hoje quero referir-me a um casal que vive num prédio que fica aos fundos do meu, que avisto não apenas das duas janelas do meu quarto, mas também da minha área de serviço e do quarto de empregada. O apartamento duplex de cobertura situa-se à altura do meu andar; só a caixa d’água e a casa de máquinas do elevador ficam acima do meu ponto de vista.

Não sou indiscreto, porque esse casal – que apelidei Zaribu e Zaribua – mostra-se com naturalidade. Ambos, mas não sempre, me parecem meio tristes, sorumbáticos. Já há alguns meses, antes mesmo da pandemia, notei primeiro o macho. Quero dizer, não tenho muita certeza, mas creio que era o macho, e ele me pareceu um urubu muito solitário.

Mas na sequência, foi o meu amigo Rubens quem percebeu que ele não era solitário, pois passou a fazer-se acompanhar de quem seria a fêmea, ou vice-versa, pois ninguém sabe distinguir o sexo dos urubus. Ou, provavelmente, um expert saiba distinguir os gêneros, porém isto não é o que importa. O que vale ressaltar é que eu – quem diria?! – passei a observar os urubus, meus simpáticos vizinhos.

Os dois estão sempre juntos. Pela manhã ficam nos vértices do prédio, até nos locais mais altos, porém maior parte do tempo estão no parapeito do terraço da cobertura.

Abrem as asas para receber o sol da manhã, e fazem minuciosa limpeza das suas penas. O curioso é que de vez em quando a fêmea – ou que me parece ser ela – salta do parapeito para dentro do terraço. O macho passa um largo tempo olhando para baixo, para dentro daquele espaço aberto que eu não alcanço com meus olhos. Desconfio que ali exista um ninho.

Nos dias frios deste inverno, vejo-os desde o amanhecer pelas bordas altas do prédio. Quando chove, ficam lado a lado macambúzios, tristes, mas é só parar a chuva ou o chuvisco, que ambos abrem as asas, um de cada vez ou simultaneamente, talvez à espera de um raiozinho de sol, e ali continuam a enfrentar a friagem. Algo estranho que os urubus fazem: para fazer face ao vento frio, em vez de fechar as asas para aquecerem-se, eles também as abrem. De fato nós, humanos e leigos, nada entendemos da lógica dos urubus.

Ao contrário do meu preconceito desde a infância, os urubus são bichos tímidos e retraídos, mas doces, simpáticos, quase bonitos, apesar de viverem a comer carniças, isto é, animais mortos. Mas que animais mortos poderão alimentar os tantos urubus que às vezes vejo voando em círculos nos céus de Curitiba? Talvez as ratazanas que morrem dentro dos terrenos baldios e abandonados.

Ao final de cada manhã Zaribu e Zaribua desaparecem. Creio que voam para longe da cidade, talvez para as matas além da área metropolitana, em busca de animais putrefatos.

Os urubus, longe de desprezíveis, são aves muito importantes para a ecologia porque se alimentam somente de carne em decomposição, e assim limpam o ambiente. Não comem nem milho, que faz as delícias de suas primas galinhas. É estranho que, comendo carne podre, os urubus não adoençam. Certamente existe em seu sistema imunológico algo que os impede de adoecer.

Procurei por informações na internet e descobri que as fêmeas dos urubus botam apenas dois ovos por período fértil, que eclodem após 32 a 39 dias. Os filhotes nascem claros, e escurecem com o tempo. Eles vivem de 8 a 12 anos, e estão prontos para se reproduzir aos 3 de idade. É uma pena que minha vista não alcance o interior do terraço, e aí consiste o mistério. O que os dois fazem quando ali estão? E quando vejo que apenas um deles desaparece um metro abaixo, dentro daquela área aberta, imagino que seja a Zaribua chocando os ovos.

Entretanto existe vida humana no apartamento de cobertura. Nunca vi esses vizinhos discretos, mas sei que ali existe alguém porque as janelas que dão para o terraço algumas vezes estão abertas, outras fechadas, ou parcialmente abertas, o mesmo se dando com as cortinas persianas. Serão humanos ecologistas que respeitam a invasão dos urubus? Parece-me claro que eles sabem que os urubus estão por ali, pois devem restar penas no chão e muito cocô também nos largos parapeitos. O casal de urubus gosta de variar um pouco de “puleiro”, permanecendo algum tempo lá no alto da casa de máquinas, nas saliências da arquitetura de variados pontos, mas sua preferência recai sempre pelo parapeito do terraço.


Zaribu e Zaribua no apartamento de cobertura do prédio aos fundos do meu. 

Há pouco notei que Zaribu e Zaribua andavam de um lado ao outro no peitoril do terraço. Olhavam para baixo, para longe, para os lados, e como de costume observaram-me fixamente. Devem achar que sou um bicho qualquer porém amistoso. Então com ânimo lançaram-se ao mesmo tempo ao espaço, passando a uns dois metros da minha janela e desapareceram em direção ao sol. 

De resto, fico na rotina do meu dia a dia isolado, atento às notícias do país, que está nas mãos de um presidente esquizofrênico e irresponsável, que desde o início da pandemia manifestou-se e agiu insanamente contra o isolamento social e o uso de máscaras. Aguardo ansioso pelas eleições de 2022, que espero alcançar para ver mudar o país para melhor. É claro que, entretanto, minha maior expectativa é pela vacinação contra a covid 19 em todo o planeta.

Outra anseio é ver os dois urubuzinhos filhotes andando sobre o parapeito do terraço do prédio vizinho, olhando para baixo, buscando coragem para enfrentar o primeiro voo. Felizes os urubus que são independentese altivos, imunes à pandemia, se satisfazem com um simples pedaço de carne pútrida e nada sabem de política.

Vida longa a Zaribu, Zaribua e a sua feliz e inocente próxima prole.

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domingo, 6 de dezembro de 2020

Livro 1928 - 2000 BANESTADO: UMA HISTÓRIA INTERROMPIDA - Coletânea organizada por Dulce Figueiredo e Marisa Stedile.

 1928 - 2000   

BANESTADO: UMA HISTÓRIA INTERROMPIDA


Coletânea organizada por Durce Figueiredo e Marisa Stedile

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Livro BANESTADO: UMA HISTÓRIA INTERROMPIDA


Capa de BANESTADO: UMA HISTÓRIA INTERROMPIDA.

Durce Figueiredo, uma das organizadoras.

Marisa Stedile, uma das organizadoras.

Capa, quarta capa e primeira e segunda orelhas.

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Livro: 1928-2000 BANESTADO: UMA HISTÓRIA INTERROMPIDA.

Organizadoras: Durce Figueiredo e Marisa Stedile.

Edição: Cleusa Slaviero.

Revisão: Cibele Lima e Ulysses Rubin.

Projeto gráfico, diagramação e capa: Antonio Dias.

Editora: Editora ComPactos Ltda. - Curitiba

Ano da edição: 2020.

Apresentação: Durce Figueiredo e Marisa Stedile.

Prefácio: Wilson Ramos Filho, Xixo.

Ângelo Vanhoni

Maria de Fátima Costamilan

Cláudio Ribeiro.

Autores: Roberto (Beto) von der Osten.

Sirlei Fernandes.

Francisco Souto Neto.

Sirley Gardini.

Sidney Sato e Admilson Figueiredo.

Zinara Marcet de Andrade.

Antônio Pereira da Silva.

Durce R. Figueiredo.

Eustáquio Moreira dos Santos.

Márcio Kieller.

Ana Smolka.

Armando Duarte Júnior.

Edilson José Gabriel.

Serginho Athayde.

Vandira Martins de Oliveira e Ana Fideli.

Marisa Stedile.

Davi Macedo.

Cid Cordeiro Silva.

Marcel Juviniano Barros.

Maria Rita Serrano.

Pablo Sérgio Mereles Ruiz Diaz.

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As primeiras páginas do livro, incluindo seu Sumário:












Neste blog, vai  apenas o artigo do coautor Francisco Souto Neto, abaixo:


O que foi o Programa de Cultura Banestado







As últimas páginas do livro:




A quarta capa (ou contracapa):
:

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Francisco Souto Neto, coautor da coletânea acima, em dezembro de 2020, para marcar a triste fase do isolamento social na pandemia pela covid-19, um tempo de dor e sofrimento no mundo, numa foto otimista à espera da vacina, bem próxima, que haverá de curar o nosso planeta doente.

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Transcrição do meu artigo:

O que foi o Programa de Cultura do Banestado

 

Após o longo período da ditadura, quando os governadores eram impostos pelo Regime Militar através das “eleições indiretas”, o primeiro eleito no Paraná em sufrágio universal foi José Richa, que assumiu em 15 de março de 1986. Na composição da nova diretoria do Banestado, ele levou Léo de Almeida Neves à presidência da instituição, e indicou seu amigo Octacílio Ribeiro da Silva para o cargo de diretor de Crédito Rural e Agroindustrial. Eu, que já era assessor daquela diretoria desde os tempos do Governo Jayme Canet Júnior, fui mantido no cargo.

Afortunadamente a Carteira Rural, criada por Paulo Schultz Filho, tornara-se um exemplo de trabalho sério e disciplinado, que servia de modelo para inúmeros outros bancos e era respeitada e enaltecida pelo Banco Central do Brasil. Os antecessores de Octacílio Ribeiro naquela diretoria, desde Mário Saporiti e Ivo Meirelles de Almeida (governo Jayme Canet Júnior) a Lourival Guebert (governos Nei Braga e José Hosken de Novais), tinham sido muito sérios e capazes, e deixaram a diretoria perfeitamente organizada, sem ingerências de políticos, num patamar altamente elogioso.

Era natural que os diretores do primeiro governo eleito pelo povo chegassem desconfiados, imaginando que o Banestado poderia ser um ninho de víboras. No primeiro encontro que tivemos, Octacílio Ribeiro disse-me: “o senhor fica até que a poeira assente”. Mandou convocar os chefes da Divisão e dos Departamentos para uma reunião “em quinze minutos, sem atrasos”. Nessa reunião o novo diretor esmurrava a mesa com tanta força, que cinzeiros e copos trepidavam. Ele tinha certeza do seu poder e intimidava a todos. A mim, ele falou: “eu sou muito exigente com a Língua Portuguesa”, ao que lhe respondi: “Então nós nos daremos bem, pois eu também sou muito exigente com o idioma pátrio”. E foi o que de fato aconteceu.

Com a passagem do tempo, Octacílio Ribeiro percebeu que a Carteira Rural, como era chamada a sua diretoria, funcionava com a precisão de um relógio suíço, e que todos ali trabalhavam com responsabilidade e presteza. Anos depois eu comentei, e isto ficou registrado na imprensa, que aos poucos fui descobrindo que por trás daquele homem carrancudo e furioso existia outro ainda mais forte, dotado de grande cultura e sensibilidade, e pressenti que aquele diretor combativo poderia apoiar a ideia de direcionar o banco para as causas da cultura com argumentos capazes de convencer os seus demais pares de diretoria.

A primeira ideia partiu de Adão Vilmar de Oliveira, que após a aposentadoria de Paulo Schultz ocupava o cargo de chefe da Divisão de Crédito Rural, e de Elzi Zanotto Hohmann, secretária da diretoria, sugerindo a Octacílio Ribeiro que realizasse uma exposição revelando os artistas plásticos existentes entre os funcionários da empresa. Ampliei a ideia, propondo a criação de um salão de arte que se repetisse anualmente, que seria realizado sem despesas para o banco, porque era possível obter recursos oriundos não apenas da Lei de Incentivo à Cultura, mas também do patrocínio de empresas que seriam beneficiadas com a simples divulgação do evento através da imprensa. Sugeri ainda que o salão de artes plásticas aceitasse inscrições não apenas de funcionários, mas também de correntistas do Banestado, que fossem artistas em fase de desenvolvimento e que ainda não tivessem recebido prêmios em salões oficiais ou de reconhecido nível, caracterizando-se como “artistas inéditos”.

Pedi ao diretor Octacílio Ribeiro que obtivesse permissão da diretoria para que Tadeu Petrin fosse autorizado a ajudar-me na criação do regulamento do certame, que teria o nome de “Exposição de artistas amadores funcionários e clientes do Banestado”. Com a anuência dos demais diretores, o presidente Léo de Almeida Neves autorizou a realização do certame. Posteriormente, na distribuição dos certificados de participação, o nome do evento foi alterado retroativamente para “1º Salão Banestado de Artistas Inéditos”, o SBAI.

 O Banestado não tinha um espaço adequado para realizar o evento, por isso a mostra, em novembro e dezembro de 1983, realizou-se no Senac, que cedeu ao Banestado a sala de exposições da sua sede da Rua André de Barros, 750. A inauguração foi feita por José Brandt Silva, que ocupava o cargo de presidente deixado por Léo de Almeida Neves. O sucesso foi retumbante e todos os jornais de Curitiba, e alguns de Ponta Grossa, Londrina e Maringá, noticiaram o acontecimento, que também repercutiu intensamente nas colunas sociais. Depois disso, na reunião de diretoria com o presidente, todos mostraram-se surpresos com o elogioso marketing realizado ao redor do nome do Banestado. E assim o SBAI continuou se repetindo todos os anos, até 1999, às vésperas da privatização do Banestado, tendo descoberto e projetado miríades de artistas plásticos, muitos dos quais depois tiveram projeção nacional. Em dezesseis anos de retumbante sucesso, a imprensa fez, literalmente, milhares de elogios ao Banestado, que se encontram hoje na internet, digitalizados, uma fonte quase inesgotável de informações.

No ano seguinte, 1985, o II SBAI ocorreu na Galeria de Arte Banestado, criada por Christóvam Soares Cavalcante, presidente da Banestado Crédito Imobiliário, no andar térreo do prédio que pertencia àquela empresa conglomerada, sito à Rua Marechal Deodoro, 333, mesmo edifício onde funcionava a presidência da BCI. Cavalcanti convidou Vera Munhoz da Rocha Marques para gerir a nova galeria de arte – no que foi coadjuvada por Clarissa Lagarrigue – que funcionava orientada por um competente Conselho Administrativo. Vera Marques era uma respeitada socialite que, a pouco e pouco, transformou a Galeria Banestado num local de encontro de artistas e intelectuais. Grandes nomes como Poty e Dalton Trevisan, dentre outros igualmente importantes, ali se encontravam para ver as obras de quem estivesse expondo, e ficavam a discutir novidades e tendências culturais. Mais tarde foram inauguradas duas outras Galerias de Arte Banestado: uma em Londrina, que era administrada por Sílvia Marconi Pavan, e outra em Ponta Grossa, administrada por Jurandir Modesto e atendida por Leda Veneri.

A partir de 1985 eu criei a base para a instalação do Programa de Cultura do Banestado. Uma vez mais a ideia foi aprovada por todos os diretores, e Octacílio, por força de uma portaria, recebeu a atribuição de Diretor para Assuntos de Cultura, paralela à de Diretor de Crédito Rural e Agroindustrial, e eu tornei-me, além de Assessor de Diretor, também Assessor para Assuntos de Cultura.

O Programa de Cultura incorporou o Coral Banestado, que já existia numa das empresas conglomeradas, regido por Amoz Camilo dos Santos, a quem dei condições de se expandir e aperfeiçoar, e liberdade para apresentar-se em eventos públicos e cívicos.

Constantino Viaro, diretor do Teatro Guaíra, tivera a ideia de dotar cidades do interior do Paraná com teatros, através do seu ambicioso Projeto Barracão. Dei meu parecer favorável e o Banestado apoiou o projeto. Entretanto, sugeri que no contrato constasse a condição de que aqueles espaços fossem registrados com o nome de “Teatro Banestado”. Viaro era o idealizador, mas o Banestado o realizador. Em 1986 propus a meu diretor a criação do Museu Banestado. A ideia não era nova, pois outros colegas tinham tentado sem sucesso criar um museu, e até colecionavam peças da história da instituição, tais como móveis que foram usados na primeira agência do Banestado, livros das primeiras atas das assembleias, e muitos objetos, documentos e fotografias. Foram eles Emerson Casseb, Sérgio Figueiredo, José Carlos Carreira Pequeno, Wilson Ganem e José Maria Antônio, dentre outros. O apoio de Aroldo dos Santos Carneiro, diretor de Serviços Administrativos, foi também fundamental para o coroamento do projeto. A Comissão de Implantação do Museu Banestado, por mim presidida, completou-se com Paulo Schultz Filho, Rosane Fontoura, Rodrigo Otávio Collere de Oliveira e Silmara Krainer Vitta.

Eu tinha localizado oito telas de Theodoro de Bona retratando os primeiros presidentes do Banestado, que estavam perdidas e danificadas, que mandei restaurar. Em seguida, com o apoio do diretor Octacilio Ribeiro da Silva, mandei completar os retratos em óleo sobre tela de todos os presidentes que se seguiram, pinturas essas que foram feitas por Antonio Macedo e Vilmar Lopes. Abaixo, as telas em minha casa, antes de receberem as molduras, observadas por mim, por minha mãe Edith Barbosa Souto e por minha sobrinha Dione Mara Souto da Rosa, que segura o chihuahua Quincas Little Poncho. Dei o nome a esta foto de “Reunião com presidentes”.

Segundo o jornal Todos Nós nº 114, de maio de 1987, o Museu Banestado foi inaugurado no dia 13 de fevereiro daquele ano, e Rosane Fontoura tornou-se a primeira administradora. Estiveram na inauguração o governador João Elízio Ferraz de Campos, David Carneiro, Celso da Costa Sabóia, Léo de Almeida Neves, José Brandt Silva e muitas outras personalidades.

Como Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado, sugeri que editássemos um livro por mês, de autor paranaense, com apoio na Lei Rouanet – portanto sem despesas para o Banco – que seria lançado na Galeria de Arte Banestado, assim mesclando a literatura com as artes plásticas. Tudo ocorria sem ônus para o Banestado, que teve a sua imagem pública enaltecida pelos mais importantes jornais, revistas e jornalistas da época. Autores como Sílvio Back, Anita Zippin, Poty Lazzarotto, Alice Ruiz e Helena Kolody ali lançaram livros, mas o Programa de Cultura apoiou principalmente literatos ainda desconhecidos, sem livros editados até então, porém dotados de grande talento e verve literária.

O Programa de Cultura do Banestado prestigiava todas as formas da arte: artes plásticas, música, literatura, cinema, teatro. Ao final do governo Richa, Álvaro Dias foi eleito governador. Octacílio Ribeiro, o único diretor do governo anterior mantido no governo eleito, foi convidado para assumir a presidência da Banestado Reflorestadora. Ele convidou-me para continuar a assessorá-lo naquela empresa conglomerada. A competente secretária da diretoria, Marlene Jakubiu, acompanhou-nos.

Para ocupar a Secretaria de Estado da Cultura, foi convidado René Ariel Dotti. O Paraná iria entrar numa verdadeira “era de ouro” com Dotti capitaneando a cultura do Estado. O Programa de Cultura do Banestado, por mim gerido, continuou não apenas sem interrupção, mas ampliou-se. Realizou-se o IV SBAI com sucesso crescente, porém em março de 1988, ao completar um ano do Governo Álvaro Dias, houve uma grande reformulação política em vários níveis. Octacílio Ribeiro “caiu” do Banestado e foi para uma diretoria regional do Banco do Brasil em Curitiba. Terminava assim a parceria de cinco anos entre mim e aquele diretor idealista e entusiasmado pelo apoio à Cultura.

Após três dias em meio à “tempestade”, fui chamado pelo vice-presidente do Banestado, Edisson Eleri Faust, que era também presidente da Banestado Crédito Imobiliário, que me convidou a participar da sua assessoria, não mais como assessor pessoal, nem técnico, mas exclusivamente como “Assessor para Assuntos de Cultura”.

Faust resolvera não ocupar o seu gabinete de presidente da BCI no 7º andar do prédio sito à Av. Marechal Deodoro, 333 (em cujo andar térreo funcionava a Galeria de Arte Banestado), mas apenas o gabinete de vice-presidente do Banestado no Conglomerado Financeiro à Rua Máximo João Kopp, no bairro de Santa Cândida. Assim, ofereceu-me o seu gabinete no prédio da BCI, onde estavam locadas a secretária Flávia Moreira Salles e a auxiliar Cecília Maria Palhares.

Faust conhecia o Programa de Cultura, pois costumava comparecer a exposições e lançamentos de livros, e deu-me “carta branca” para ampliar as minhas próprias atribuições. A minha primeira proposição foi uniformizar os regimentos internos das Galerias de Arte Banestado de Curitiba, Ponta Grossa e Londrina, todas orientadas por conselheiros compostos de personalidades ligadas à vida cultural de cada uma das cidades. Paralelamente, pedi permissão para estudar as possibilidades de inaugurar novas galerias de arte em Maringá e Cascavel.

Alguns meses depois, naquele mesmo ano, em meio a uma nova tempestade política, “caiu” Edisson Faust da vice-presidência do Banestado. No dia seguinte fui chamado pelo presidente do Banestado, Carlos Antônio de Almeida Ferreira, para integrar a sua assessoria. “Dr. Almeida”, como passou a ser conhecido, formou uma “dobradinha cultural” com o Secretário de Estado René Ariel Dotti e, nos três anos que se seguiram do Governo Álvaro Dias, o Paraná conheceu um ímpeto cultural jamais antes visto e que nunca mais se repetiria em tal intensidade.

Eu prossegui desenvolvendo o Programa de Cultura do Banestado e instituí um colegiado de experts como componentes de uma “comissão para aquisição de obras de arte”, com o propósito de depurar a compra de telas para as paredes de novas agências. A secretária da presidência da BCI – Banestado Crédito Imobiliário, Flávia Maria Moreira Salles, com sua impecável datilografia, foi um apoio de fundamental importância para que eu pudesse realizar o meu trabalho. O SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos chegou a ocupar o lugar do oficial Salão dos Novos (da Secretaria de Estado da Cultura) nos anos em que este entrou em recesso, e pelo seu alto padrão de excelência foi várias vezes comparado ao Salão Paranaense, segundo registros da imprensa da época, agora digitalizados e na internet.

Ao terminar o Governo Álvaro Dias, Heitor Wallace de Mello e Silva foi indicado pelo novo governador, Roberto Requião, para assumir a presidência do Banestado. Numa cerimônia realizada no Museu Banestado no princípio de 1991, o novo presidente inaugurou o retrato do seu antecessor Dr. Almeida. Em meu discurso, eu informei que me aposentaria dentro de três meses e pedi ao novo presidente Dr. Heitor que mantivesse o Programa de Cultura do Banestado, pela importância que tinha o mesmo no cenário paranaense.

Ao aposentar-me em junho de 1991, fui sucedido por Tina Camargo, que ficou somente alguns meses no cargo, tendo sido substituída por Maria Amélia Junginger como Assessora para Assuntos de Cultura. Esta realizou um SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos e em 1992 aceitou o convite do governador para dirigir o Museu de Arte Contemporânea, tendo sido substituída como assessora por Vera Munhoz da Rocha Marques, que também realizou um Salão Banestado. Contudo, o Programa de Cultura começava a desabar, principalmente porque no ano seguinte o novo presidente do Banestado, Luiz Antônio Fayet, suspendeu os Salões Banestado e pretendeu transformar a Galeria de Arte num espaço para exposições apenas étnicas. Felizmente a imprensa interveio, assim como alguns políticos, explicando a Fayet a importância daquele espaço destinado às artes plásticas. Desgostosa com os retrocessos, Vera Marques aposentou-se e Domício Pedroso ocupou seu lugar, permanecendo no cargo também por pouco tempo. Mais uma mudança durante o Governo Requião afastou Fayet da presidência do Banestado e colocou Domingos T. Murta Ramalho em seu lugar. A esse tempo, a Galeria Banestado transformou-se em Espaço Cultural Banestado, atendido por Clarissa Lagarrigue.

No Governo Jaime Lerner assumiu o posto de responsável pelo novo Espaço Cultural Taís Horbatiuk, que conseguiu realizar o XII e XIII Salões Banestado de Artistas Inéditos e depois foi sucedida por Tânia Dallegrave Góes e Ana Cristina Rank, que inauguraram com sucesso o XIV SBAI em dezembro de 1998. Nesta derradeira edição, fui convidado para atuar como componentes da comissão julgadora ao lado de Dulce Osinski, João Henrique do Amaral, Lirdi Jorge e Nilza Procopiak.

Em 2000, envolto em terrível escândalo de corrupção, o Banestado foi dolorosamente privatizado por Jaime Lerner, na equivocada campanha de privatizações do presidente Fernando Henrique Cardoso. Lerner, que aspirava candidatar-se à presidência da República, ao concordar com o leilão do Banco oficial do Paraná a preço de banana, viu encerrarem-se as suas pretensões políticas. Terminava a gloriosa caminhada do Banco do Estado do Paraná, que desde 1928 vinha ajudando a desenvolver e construir o “Estado dos pinheirais”, e que nas décadas de 80 e 90 também impulsionou admiravelmente a cultura do Paraná no seu sentido mais amplo. As novas gerações já não sabem o que foi e o que significou o Banestado. Mas a grandeza e a dedicação dos que trabalharam na empresa com amor e respeito ficarão perpetuadas nos registros jornalísticos e na internet para as gerações futuras. Todos, dos diretores aos contínuos, são legítimos representantes da instituição que impulsionou o panorama industrial, agrícola e cultural do Paraná, ajudando a prover o nosso Estado dos alicerces que possibilitaram elevá-lo ao estágio em que ora se encontra, motivo de orgulho dos paranaenses e de admiração e respeito de todos os brasileiros.

Francisco Souto Neto

Foi funcionário do BANESTADO, ocupou diversas funções e cargos de assessoria na área de cultura. Escritor e jornalista ocupa a 26ª cadeira na Academia de Letras José de Alencar

O conteúdo completo com imagens encontra-se no site

www.academiadeletrasjosedealencar.blogspot.com