Francisco Souto Neto na Revista INFORME MAGAZINE nº 6 – Novembro e Dezembro 2002 (p. 17). Diretor e editor Nilton Romanowski
Capa
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ISLÂNDIA, TERRA DO GELO E DO FOGO
Francisco Souto Neto
A Islândia, cuja área corresponde à metade do Paraná, é uma república insular totalmente vulcânica. Lá existem cerca de 200 vulcões, dez por cento dos quais ativos, e incontáveis gêiseres. Isto acontece porque o país fica sobre uma falha geológica do planeta, onde as placas tectônicas continentais da América do Norte e da Europa se chocam. A ilha da Islândia está situada entre o Atlântico Norte e o Oceano Glacial Ártico. Embora a uma distância de apenas 300 quilômetros da Groenlândia (América do Norte), ela é considerada o país mais ocidental da Europa e, mais do que isto, parte da Escandinávia, isto porque sua população de apenas 279.000 habitantes, é formada por descendentes dos noruegueses e celtas. Seu extremo norte toca o Círculo Polar Ártico. No auge do verão, a temperatura média fica por volta dos 10 graus centígrados e o sol não se põe totalmente: ele apenas resvala sob o horizonte, assegurando a permanência da luz e da claridade durante as 24 horas do dia. No inverno a situação se inverte, pois a temperatura cai a dezenas de graus negativos e só há um pouco de claridade entre as 10 e 14 horas, ocasião em que o sol apenas “arranha” o horizonte islandês.
Os gêiseres
Viajei à Islândia em companhia do professor e psicólogo Rubens Faria Gonçalves. Uma vez em solo islandês, apressamo-nos em fazer um passeio à área vulcânica dos gêiseres, distante cerca de 80 quilômetros da Reykjavík (108.000 habitantes), a capital do país. A localidade chama-se Geysir, onde se localiza o gêiser mais ativo do mundo, o Strokkur, que entra em erupção a cada três a cinco minutos. A poucas dezenas de metros do Strokkur, encontra-se o Grande Geysir, com sua imensa cratera fumegante, que está em repouso há anos. Ele é chamado de “o avô de todos os gêiseres”, porque sua denominação transformou-se no substantivo que dá nome a todos os gêiseres do mundo. Em islandês, “geysir” significa “fúria”.
A água do Strokkur é ejetada a 30 metros de altura, tanto quanto um prédio de dez andares, à temperatura de 140 graus. Embora o Strokkur se constitua no mais notável dos fenômenos do local, nada para mim se compara às pequenas crateras, verdadeiros “filhotes de gêiser e de vulcão”, com cerca de apenas 30 centímetros de diâmetro, às vezes ainda bem menores, que ficam borbulhando ruidosamente o enxofre misturado à lama, como se fossem espessos doces de abóbora ao fogo... Cheguei a ajoelhar-me para poder ver, bem de perto, uma cratera borbulhante que não teria mais do que o diâmetro do fundo de uma garrafa.
A região é perigosíssima e existe uma possibilidade, embora remota, de alguma área ceder ao peso da pessoa. Isto já aconteceu no passado, com turistas que perderam a vida ao mergulharem nas massas ferventes.
Lavas de Thingvellir
O livro “Maravilhas do Mundo”, de Rolando Gröök, editado pelo Círculo do Livro, inclui Thingvellir, na Islândia, como uma das 23 maravilhas naturais da Europa e do mundo.
Para entender-se o significado de Thingvellir, é preciso saber que a Falha Atlântica (o enorme acidente geológico que atravessa o mundo quase de pólo a pólo e que desloca a Europa e as Américas em sentidos opostos) é toda submarina, exceto na Islândia, onde ela aflora e corta – mas não separa – o país.
Caminhando-se pelo centro da Falha, à primeira vista parecer tratar-se de um largo caminho entre dois altos paredões de rochas vulcânicas. Na verdade, as forças titânicas do subsolo (isto é, os fluxos do magma) empurram as rochas para cima e para os lados ao mesmo tempo, nos sentidos leste e oeste. Tais paredões, talvez com uns 20 metros de altura, parecem fixos... porém, na verdade, eles afastam-se e alargam-se a uma velocidade de quatro centímetros ao ano. Isto significa que a Islândia cresce dois centímetros anuais para cada lado.
No topo dos paredões, por onde andamos cuidadosamente, pode-se ver o sinuoso enrugamento que o magma ardente fez ao resfriar e solidificar em forma de rocha. É possível correr os dedos pelo relevo e reconhecer, ali, os vestígios da criação do mundo.
Alta civilização
“Islândia” significa “terra do gelo”. Seria mais justo chamá-la “terra do gelo e do fogo”. No entanto, apesar de tantas adversidades geológicas, o povo islandês é extraordinariamente bem educado e feliz. A média de homicídios no país é de... apenas dois ao ano! Existem cadeias que estão quase sempre vazias. Lá praticamente não se conhece o roubo e o furto. Ninguém precisa roubar, porque o povo é rico, sem exceções. Basta dizer que aquele país é a segunda renda per capita do mundo. Não há analfabetos. O governo dá prioridade aos assuntos de saúde, educação e cultura. É um país muito próximo da utopia, o mundo perfeito.
Deixamos a ilha muito impressionados com tudo aquilo que vimos, dos vulcões e geleiras aos gêiseres em erupção. A verdade é que andar por certas regiões da Islândia é o mesmo que caminhar pelo princípio dos tempos, quando as forças do planeta formavam o seu primeiro relevo.
Ilustrações: Imagem 1 – Atrás de Rubens Faria Gonçalves, o gêiser Strokkur entrando em erupção. Foto Souto Neto. Imagem 2 – Francisco Souto Neto filmando a lava solidificada de Thingvellir. Foto Rubens Gonçalves.
A revista Informe Magazine teve curta duração.
Abaixo, na página 4 da edição de novembro e dezembro de 2002,
a homenagem de Nilton Romanowski a seus colaboradores:
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